Francisco e uma radical humanidade
Partindo do pressuposto de que há em cada ser um humano um anseio último e originário de integração e reconciliação plena consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com Deus, então, São Francisco aparece como aquele ser humano que se reconciliou plenamente consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com Deus. Desta forma, a vida de São Francisco não suscita questões, antes, nos põe em questão.
Por força dos valores preconizados na sociedade atual o desejo de ver sanado este anseio fontal que habita a condição de cada ser humano redunda em satisfações na esfera do ter. Assim, é comum assistir a uma busca desenfreada por ter bens de consumo. No entanto, este desejo de ter não se reduz a meros objetos, já que se espraia também ao âmbito das pessoas: amigos, filhos, esposa, conhecidos “todas formando círculos à nossa volta, ligados a nós por laços de afeição e possessividade” (MOREIRA, 1996, p. 357).
A satisfação deste anseio fontal não se encontra fora do ser humano e sim dentro. Então, por mais obstinadamente que se procure sanar este anseio profundo com coisa exteriores de nada adiantará, já que a satisfação se encontra dentro, na interioridade de cada ser humano. Portanto, somente numa descida radical à própria humanidade é que se encontrará com a verdade mais profunda de si, do outro, do mundo e de Deus.
O caminho em direção a si provém de Deus. Com efeito, isto significa reconhecer que há um apelo transcendente no interior da condição humana e que, em última análise, o significado da resposta a este apelo não se encontra em si mesmo. Portanto, Deus é o “caminho mais curto para si mesmo e outros humanos. Deus não é um divino abstrato, mas um Tu” (MOREIRA, 1996, p. 361) que interpela pessoalmente a cada um.
MOREIRA, Alberto da Silva. São Francisco e a modernidade. In. Herança Franciscana: Festschrift para Simao Voigt, OFM. Petrópolis, Vozes/USF: 1996, p.355-361.