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Missão franciscana e povos indígenas 

Publicado por Frei Klenner Antonio da Silva | 06/05/2020 - 05:29

“E o próprio Senhor me conduziu entre eles e fiz misericórdia com eles” 
(São Francisco de Assis)

 

São Francisco, em seu testamento, diz que sua conversão aconteceu com a presença junto aos leprosos fazendo misericórdia com eles. Esses fatos e essas pessoas marcaram a vocação do Pobrezinho de Assis que fez seu encontro com o Senhor ao encontrar os pobres leprosos.

Cada franciscano deve se perguntar: Quando e através de quem pude fazer meu encontro fundamental com o Cristo e, assim, mudou minha vida e disse sim à vocação?
Minha caminhada vocacional teve um momento marcante e que a resposta ao chamado de Deus pode se estabelecer de forma mais decidida e acertada. Esse encontro com o Cristo pobre, humilde e crucificado se deu no encontro com os povos indígenas no estado do Mato Grosso do Sul, em especial, com o povo Terena, povo do pantanal. 

No ano de 2013 reunimos alguns religiosos e formamos um grupo de trabalho com as juventudes. Com o apelo das Irmãs Lauritas focamos o nosso trabalho junto aos jovens indígenas nas aldeias Tereré (Sidrolândia/MS) e Buriti (Dois Irmãos do Buriti/MS). 

Íamos com o intuito de estarmos junto aos jovens e as comunidades. Isso marcou nossa presença: estávamos como aprendizes e não como mestres. Os jovens, os anciãos, as crianças, as lideranças, os estudantes e professores muito nos ensinaram. As aldeias se tornaram escola das coisas de Deus e do ser humano, escola de cultura, de diferenças, de respeito.

Com o povo Terena, povo de “Grande Coração”, como costumo chamá-los, fui me tornando cada vez mais um amante das causas indígenas e me fez um apoiador dos múltiplos movimentos indígenas que buscam a dignidade e seus diversos direitos.

Como adesão às causas dos povos indígenas e como resposta vocacional fiz minha consagração perpétua numa aldeia do Povo Terena, Aldeia Tereré. Esta que foi primeira aldeia que conheci, onde posso me sentir como parte daquele povo que a alguns anos me acolheram como irmão e filho. Por isso, no dia 29 de julho de 2017, dia de Santa Marta, com pinturas, rituais, danças sagradas, adornos como cocares e colares celebramos a eucaristia e me consagrei a Deus naquela terra sagrada.

O ser capuchinho na itinerância, austeridade, contemplação, com espírito de constante reforma e sempre na proximidade com o povo de Deus, especialmente os mais pobres e marginalizados pude encontrar junto aos povos indígenas. Todas as vezes que estou nas áreas indígenas ou junto de um meu irmão ou irmã fortaleço a minha consagração a Deus e me entusiasmo pela missão.

Cada situação, fato e presença é capaz de me encantar novamente. Ao longo desses sete anos de convivência fecunda pude me tornar um pouco mais franciscano capuchinho e aprendi com os Terena algumas características desse povo, entre elas: a pessoalidade na coletividade com forte espírito fraterno; a conexão e interrelação com a natureza e os seres materiais e espirituais; o não acúmulo, mas somente a preocupação com o essencial da vida e para a vida perpassado pela simplicidade; o forte acento no simbólico através de adornos, pinturas, animais, relações etc. capazes de transpassar o tempo; a sacralidade do lúdico das danças e rituais que expressam a visão de mundo e perpetua as cosmovisões; a “ingenuidade” das ações capazes de leveza de vida; o respeito intergeracional que valoriza o mundo da criança, do jovem, do adulto e dos anciãos; a acolhida na gratidão como expressão da solidariedade; o respeito pelos sábios e lideranças; a capacidade de no caos encontrar a harmonia.

Tudo isso pude aprender a partir do espírito de abertura ao outro e com a gratuidade que são as necessárias disposições para a vivência da missão franciscana capuchinha. Por isso, sempre meu agradecimento à ordem capuchinha e ao povo Terena por todas as experiências frutuosas nessa missão.

Sobre o autor
Frei Klenner Antonio da Silva

Frade Menor Capuchinho, irmão leigo.

Nasceu em 15 de dezembro de 1991 em Anápolis/GO.

Ingressou na Ordem pela Província Nossa Senhora de Fátima do Brasil Central (TO/GO/MS/DF) no ano de 2010, professando os primeiros votos em 04 de outubro de 2012. Emitiu sua profissão perpétua no dia 29 de julho de 2017 na Aldeia Tereré do Povo Terena.

Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) de Campo Grande/MS e atua no Serviço de Animação Vocacional (SAV) e Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) da Província.