Relações vigorosas
“Bem-aventurado o servo, que tanto ama e teme o Irmão, quando está longe dele, como quando está com ele. E não diz atrás dele o que não pode dizer com caridade diante dele” (Adm 25).
Precisamos do vigor de Francisco de Assis. Dizer a verdade ou chamar a atenção de uma pessoa que pensamos ter agido errado requer disponibilidade e abertura para receber também as críticas. Quando a isso, a espiritualidade mostra sua fraqueza na contemporaneidade.
Observemos bem nossas relações. Olhemos como comportamos nas comunidades. Tendemos a ser esquivos, distantes, frios, indiferentes. Temos medo das relações. Desconfiamos com facilidade.
Hoje, por falta de intimidade (relações verdadeiras) somos inseguros. A insegurança leva a tentar controlar nossas amizades e aquilo que chamamos de relacionamentos amorosos. Entretanto, ao fazermos isso, não enxergamos os outros e ficamos preocupados somente conosco mesmo. Logo, na tentativa intensa em controlar as relações tomamos posse do outro. Começamos a criar um ‘castelo de cristal’. Montamos nossas relações e deixamos a espontaneidade. Quando menos esperarmos, estaremos usando o discurso religioso para manter nossas ‘amizades’. Entretanto, a oração, nesse caso, serve somente a nós mesmo e esquecemos o amor gratuito de Deus.
Na insegurança construímos relações melindrosas. Essas não compreendem o ‘sol forte’ que é o amor. Os relacionamentos começam a ser cerceados por um conjunto de regras. Tenta-se manter longe qualquer crítica. “Devemos nos dar bem!” Tal pode ser o discurso. Essa postura constrói em torno de si uma espiritualidade anêmica que dificilmente consegue estabelecer a misericórdia nas relações. Por se tratar de pessoas ‘melindrosas’, qualquer erro é trágico para as relações. Não se fala a verdade, tende a escondê-la. A crítica que nós sempre precisamos para amadurecer fica afastada e se cria um ciclo de orgulho. A fofoca e o dizer as escondidas, parece ser o retorno daquilo que se nega: as dificuldades humanas.
Todos nos erramos. Temos nossos limites. Mas não podemos ver isso com negatividade e tristeza. Talvez um dos erros dos discursos religiosos e das diversas espiritualidades que estão por ai, é pregar uma vida sem erros. Não podemos ter essa vida ‘perfeita’. Os erros fazem parte da vida. E são eles que nos possibilita a aprender. Lembremos quando vemos uma criança tentando andar ou escrever, são os inúmeros erros cometidos que também vai possibilitar o acerto.
Somos chamados a dialogar para estabelecermos relações verdadeiras e se temos dificuldade, procuremos ajuda. Talvez não saibamos amar, tenhamos medo de se doar. Entretanto, isso não pode ser um empecilho para amadurecermos. Lembremos da Carta de Paulo aos Coríntios: O amor é vigoroso, acolhedor, paciente, bom… (Cf. I Cor 13).