Uma Igreja “em saída”
Para que a Igreja se torne missionária (Mt 28,19-20) se faz necessário empreender um movimento de saída sem descurar, obviamente, do discernimento que este movimento exige.
A saída permanente da Igreja (“em saída”) se dá, acima de tudo, pelo impulso dinâmico da Palavra de Deus acolhida com fé. Exemplo deste acolhida é Abraão, o pai da fé, o qual não permaneceu indiferente ao movimento desencadeado pelo chamado de Deus. Em Abraão, o arquétipo do crente, se percebe pelo menos duas características deste dinamismo da Palavra: sua força e sua liberdade. A força da Palavra de Deus é tal que não conseguimos prever todos os seus desdobramentos. Desta primeira característica do dinamismo intrínseco da Palavra de Deus desencadeia o segundo, a saber, sua liberdade incondicional. Ora, esta é a principal característica da Palavra de Deus e quem a acolhe com fé é incapaz de manipulá-la. Por força disto, Abraão teve que discernir qual era o caminho que deveria seguir. De igual acontece com a Igreja na atualidade seja em particular seja comunitariamente.
Supondo o acolhimento da Palavra de Deus por parte do crente no seio da Igreja em um processo ininterrupto de discernimento suas atitudes em face das exigências do tempo presente serão: ‘primeirear’, envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar.
‘Primeirear’ não era outra coisa senão tomar a iniciativa. É, de fato, sair sem medo a fim de encontrar o outro onde ele está com o fito de lhe oferecer misericórdia. Portanto, o movimento de saída é marcado pela finalidade: oferecer misericórdia e não agregar ou arrebanhar.
O momento da vida de Jesus que ilustra a dinâmica do envolvimento é o lava pés. Se, de fato, não obstaculizar a força da Palavra, então, será envolvido e envolverá, já que estará colocando em prática tal impulso.
Pelo fato de que aquele que não coloca barreiras ao dinamismo da Palavra e, portanto, se envolve com os outros o resultado não pode ser outro que não o acompanhamento em todos os processos da vida seja eles duros, tristes ou felizes. Ora, este acompanhamento é feito na índole evangélica, isto é, aquela maneira de ser que evita deter-se na consideração das limitações e prefere lançar o olhar no horizonte aberto pela esperança.
Aquele que age segundo a índole do evangelho há de produzir muito fruto, visto que não perde a paz por causa do ‘joio’ que se espalha vigorosamente.
O resultado deste acolhimento do dinamismo da Palavra de Deus sob a égide primeira do evangelho conduz a uma alegria que brota da atuação da Palavra de Deus no mundo e não do mecanismo pragmático das exigências pessoais e mesmo culturais de sucesso e eficácia. Daí porque cada pequeno passo, cada pequena vitoria tornar-se um grande motivo de festa e de alegria.
PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium: A alegria do Evangelho sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulus/Loyola, 2013, p.19-22.