Tamanho do Texto:
A+
A-

Não vivemos em ilhas

Publicado por Frei Jaime Bettega | 21/04/2015 - 13:45

É necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.” (José Saramago).

O olhar busca o todo. Ninguém se satisfaz vendo pela metade. Como para tudo há um limite, é necessário, então, criar outras formas, novas alternativas, outro jeito de ampliar o olhar. Para ver a ilha, a condição é sair da ilha.

Para captar o que vai nas profundezas da alma, é imprescindível sair de si mesmo. Tomar distância de um lugar não é uma obrigação. Mas pode ajudar a redescobrir aquele espaço que parecia sem brilho por causa da rotina. Quando se está fora de casa, a saudade desencadeia detalhes e permite a valorização daquilo que parecia simples demais. A distância é o lugar da avaliação, da reflexão e da emoção. Quem pisa sempre o mesmo chão, aos poucos, se torna rotineiro e incapaz do encantamento.

A centralização ao redor do próprio ‘eu’ tem produzido muito isolamento e um jeito míope de captar o que vai para além do olhar. O individualismo se encarrega de transformar muitas pessoas em pequenas ilhas, indiferentes diante dos movimentos e ações que poderiam qualificar a existência. Ser como uma ilha é perder o melhor da vida que está na convivência.

Ao mesmo tempo que voltamos nosso olhar para os outros deveríamos perceber o que está em nossa interioridade. Enquanto tivermos dúvidas de quem realmente somos, os laços para com os outros não serão consistentes. Mas se não der para sair da ilha, isto é, do lugar onde você se encontra, procure sair de você mesmo. A percepção suscitará surpresas e constatações. Como perde tempo e se distancia da humildade quem não sai de si para captar detalhes de si mesmo.

Sobre o autor
Frei Jaime Bettega

 Frei Jaime tem formação em Filosofia, Teologia, Administração de Empresas, Pós Graduação em Gestão de Pessoas e Mestrado em Administração, com enfoque na Espiritualidade nas Organizações. Professor de Ética Organizacional do curso de Administração de Empresas da UCS.,  Coordenador da Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan) e é o fundador do Projeto Mão Amiga, que auxilia crianças carentes.
Apresentação do programa, na rádio São Francisco SAT (560 AM)e Articuladro do Jornal Correio Riograndense e colunista no Pioneiro.