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Franciscanos no V Encontro da Articulação São Francisco Vivo

13/06/2019 - 11h51
Franciscanos presentes no V Encontro da Articulação da Bacia do Rio São Francisco relatam e atentam para a necessidade de maior envolvimento da Família Franciscana ao longo do “Velho Chico”

A Família Franciscana esteve em Januária, MG, de 7 a 9 de junho de 2019, no V Encontro da Articulação Popular da Bacia do Rio São Francisco. Estavam 109 pessoas de 56 organizações de povos indígenas, quilombolas, geraiseiros/as e catingueiros/as de fundos e fechos de pasto, pescadores/as, pesquisadores/as, pastorais e de grupos urbanos das regiões de toda a Bacia. A presença franciscana neste meio nos recorda Dom Frei Luís Flávio Cappio, OFM, um dos membros articuladores e inspiradores desta articulação iniciada em 2005. 

"No horizonte a necessidade de mobilização social mais competente e urgente para avançar na luta pela vida e dignidade dos humanos e da natureza da grande Bacia do Velho Chico... Voltamos à acolhedora Januária para nos dar conta do agravamento do quadro que passa a Bacia, enfrentado pela São Francisco Vivo desde 2005. Problemas e desafios como a expansão sem limites do agronegócio, da mineração e dos projetos de energia eólica e solar e a ameaça nuclear; o desmatamento dos Cerrados, que acarreta mais assoreamento e diminuição do nível das águas e o avanço do mar na foz salinizando solos e águas; a contaminação geral pelos poluentes das diversas atividades econômicas sem limites, em especial os agrotóxicos e os rejeitos minerários; a grilagem violenta de terras, concomitante à paralisação da reforma agrária e do reconhecimento dos territórios tradicionais; os retrocessos nos serviços públicos de educação (fechamento de escolas rurais e cortes de verbas) e saúde (precarização do SUS) e a anunciada reforma da Previdência, que tanto preocupa os pobres do campo e da cidade. O fracasso da transposição de águas do São Francisco dá mais razão às críticas que fazíamos ao projeto e atesta a penúria do rio"¹.

“O avanço das lutas se faz mais exigente desde o crime da Vale em Brumadinho, MG, com seus efeitos terríveis não só para as pessoas e a natureza locais, como também para tudo e todos da ribeira abaixo. A contaminação criminosa da Vale continua impactando as comunidades do Paraopeba até a barragem de Três Marias com as dificuldades do desabastecimento de água potável e a desvalorização e declínio do pescado e outras atividades dependentes do rio, sem que a responsável e as autoridades assumam soluções reais e permanentes. O sofrimento mental nas comunidades afetadas e descrentes se constitui em um grave problema de saúde pública... Desafio ainda maior é não só fazer as lutas mas também disputar a opinião pública a respeito"¹. O violento e perverso crime da Vale em Brumadinho é constatado por muitos com o benefício a mesma para retirar o minério decantado nas barragens de rejeitos, a fim de reminerá-lo. É um crime hediondo, cuja lama e metais pesados já chegam ao Rio São Francisco, além de contaminar até o ar da região, constatam pesquisadores. 

O principal interesse dos empreendimentos para o Velho Chico é tristemente a geração de energia e captação de água para irrigação ao grande agronegócio.  Soma-se cerca de 250 barragens ao longo da Bacia. É assustador o quadro, com um impacto muito desgastante em toda população. A mineração, que subiu 550% sua atividade no Brasil em dez anos, quer até quadruplicar sua extração de vários minérios até 2030. Junto a isso temos, por exemplo, a barragem em Paracatu, cerca de 70 vezes maior que a de Brumadinho, que se romper o rejeito irá para o Rio São Francisco! É aterrador e desoladora a situação. Urgente uma real coligação de forças, grupos e entidades para se resistir diante de tais monstros, mineradoras, agronegócio e ainda a proposta de energia nuclear vinda com o perverso governo atual, que tem agravado toda esta situação, com o desmonte da legislação ambiental e social, além da violência de pistoleiros sobre os ribeirinhos.

Por outro lado, "as experiências populares compartilhadas, realizadas no âmbito dessa Articulação, provam que, não obstante todas as dificuldades, a luta vale a pena e que é possível fazer a diferença no rumo do Bem Viver: rios afluentes revitalizados por comunidades ribeirinhas no Alto; os levantes populares em defesa das águas e dos territórios geraiseiros no Oeste da Bahia; a mobilização social mais ampla em vários lugares da Bacia frente à ameaça da lama da Vale e a dos jovens aliados aos indígenas e quilombolas contra a Usina Nuclear no Submédio; a ação das mulheres do Baixo em remover o lixo e conscientizar outros moradores contra a poluição; as parcerias com pesquisadores das universidades públicas nos temas que interessam às lutas populares da Bacia; a mística que move o povo e suas organizações e lutas"¹.

“Ao final do encontro, numa bela e tocante celebração às margens do Velho Chico, liderada pelos indígenas, quilombolas e o bispo diocesano de Januária, os participantes em gratidão devolvendo ao rio as águas trazidas de seus lugares de origem, nos comprometemos com a continuidade da Articulação reorganizada”¹.
De novo e sempre ecoamos: “São Francisco Vivo – Terra e Água, Rio e Povo”!

¹Trechos da Segunda Carta de Januária, 9.junho.2019


Foto em destaque: Da esquerda para a direita:
Zennus (OFS), Ir. Etelvina Moreira de Arruda (Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação), Washington Lima (JUFRA/OFS), fr. Marcelo Toyansk (OFMCap), Rômulo Ferreira (JUFRA).

Fonte: https://cffb.org.br/franciscanos-presentes-no-v-encontro-da-apsfv-relatam-e-atentam-para-a-necessidade-de-maior-envolvimento-da-familia-franciscana-ao-longo-da-bacia-do-velho-chico/

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Frei Marcelo Toyansk (Conferência CCB)

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