Delegação Cuba

Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo

“Veni, Creator Spiritus!”

Em clima de Pentecostes me dirijo a Vocês Irmãos, para avivar a nossa comunhão fraterna e, ao mesmo tempo, informar-lhes acerca do COMPROMISSO que a nossa Província assume diante da Ordem: A MISSÃO DE CUBA! Há nove anos estamos presentes na Delegação; é pouco tempo quando se trata de compromissos dessa envergadura, mas, a Cúria Geral, nos governos de frei John Corriveau e frei Mauro Jöhri, respectivamente, vem nos desafiando a assumirmos aquela Missão. Nesses quase dez anos, a nossa Província vem se encarnando na realidade eclesial cubana, interpelada pelo Espírito, a prosseguir a história deixada pelos Irmãos espanhóis e abrir as “fronteiras dos corações cubanos ao anúncio da fé”. Embora reconheçamos que nossas forças sejam exíguas, afirmamos o nosso parecer positivo ao Ministro Geral, quanto à recepção e passagem da Delegação de Cuba para a nossa Província. Certamente não podemos andar a passos de galope, mas, na persistência do “andar nordestino”, nos esforçaremos para manter viva a nossa presença naquela Missão. Para lhes situar no contexto histórico no qual será inserida a nossa Província, lhes brindo um pouco de história dessa presença que nos antecedeu.

PRESENÇA CAPUCHINHA EM CUBA!  

PRECURSORES!  

Antes que a Ordem se fizesse presente oficialmente em Cuba, aprouve a Divina Providência enviar nos meados do século XVII, dois Missionários Apostólicos: Frei Francisco José de Jaca y Aragão e frei Epifânio de Morians e Borgonha. Eram de Províncias e nacionalidades diferentes, e não se conheciam. Frei Francisco era espanhol e missionário na Venezuela; frei Epifânio era francês e missionário na Guyana.   Os dois se encontraram e se conheceram em 1681, no porto de Havana, e a partir dessa data, sob o lema: “libera eum qui iniuriam patitur” (Eclo. 4,9), se uniram na luta pela libertação dos escravos negros e índios, permanecendo em Havana até novembro de 1683, quando foram deportados prisioneiros à Espanha (cfr. Miguel Anxo, vol. I, Salamanca, 2003).   
Há quase um século após a passagem desses Capuchinhos “abolicionistas” por Cuba, em agosto de 1789, passou por Havana, frei Antonio de Muro, que regressava à Espanha após erigir em Santafé de Bogotá um Colégio Missionário. Desejoso de que os Capuchinhos assumissem a obra das Missões Populares em Cuba, o Bispo Santiago Echeverría pediu a frei Antonio que, chegando à Espanha, gestionasse com os superiores a respeito da proposta, além da fundação de um Colégio Missionário em Havana. Sendo da Província de Valência, frei Antonio de Muro expôs o projeto aos frades castellanos que, naquele momento, viviam uma atmosfera de fervor missionário com a beatificação de São Lourenço de Brindisi (01/06/1783), fundador da Província de Castela.

A PROVÍNCIA DE CASTELA!  

Aos 25 de fevereiro de 1784, a Província de Castela enviou a Cuba um grupo de vinte e nove missionários: 21 sacerdotes e 08 Irmãos leigos. Na escala que fizeram em Porto Rico, enquanto esperam transporte para a Ilha, pregaram uma Missão de 21 dias. Finalmente aportaram em Havana no dia 12 de junho de 1784. Enquanto uns dedicavam-se ao Colégio, outros percorriam a Ilha pregando Missões Populares. Pouco tempo depois, com a ascensão do liberalismo espanhol ao poder em 1820, não veio mais reforço de pessoal e a Missão começou a enfraquecer.   

Com a guerra da sucessão espanhola iniciada em 1841, recrudesceu ainda mais a perseguição dos Religiosos e aquela substancial lista de 29 missionários foi, aos poucos, eliminada pela barbárie. A lei de exclaustração, executada em Cuba, em 1841, apagou a Vida Capuchinha no Convento São Filipe Neri, em Havana; foram minguando com o tempo: uns preferiram a exclaustração forçada, os mais velhos foram morrendo e, os mais ousados, despidos de sua identidade, hábito e barba, preferiram viver na clandestinidade até o dia em que a morte arrebatou o último deles, em 1861.  Assim sucumbiu aquela gloriosa etapa da presença Capuchinha na Ilha cubana.   

PERÍODO DE RESTAURAÇÃO!    

Por volta de 1850, os Capuchinhos que missionavam na Venezuela, tentaram “refundar” a presença da Ordem na Ilha, mas, não faltou quem fechasse o caminho para eles. O Bispo de Santiago de Cuba, (Santo) Antonio Maria Claret, intercedeu junto à rainha Isabel II, que ofereceu aos Capuchinhos de Navarra, uma residência em Bayamo, mas, a proposta não foi aceita pelos Superiores Maiores.

Finalmente, a segunda geração de Capuchinhos chegou a Cuba no alvorecer do século XX, após 64 anos de ausência e, desta vez, se estabelecem na prócer cidade de Bayamo, região oriental do país, a 750 km de Havana. A conturbada situação política da Venezuela obriga os frades a abandoná-la e, em 1905, estabeleceram-se na lendária cidade de Bayamo, onde se deu a fundação de Cuba. O ambiente não era tão favorável aos missionários, ao contrário, era muito desafiador; ali assolava o anticlericalismo. Mas, a paciência e o perseverante trabalho dos frades, impõem-se definitivamente e a Ordem instaura-se novamente em Cuba. Em 1919, avançam ao centro do país e estabelecem-se em Cruces (Villa Clara), assumem a Paróquia e organizam o Colégio Missionário.   

O TEMPO DA PUJANÇA!

Em 1944, o Bispo de Havana entregou aos Capuchinhos a arruinada Igreja de São Salvador, na periferia da capital, e assim, foi aberta a primeira residência havanera. Nesse mesmo ano, enquanto assistiam ao “São Salvador”, projetaram-se para o futuro e iniciaram a construção do Convento e da Igreja da Ordem. Em dez anos (1948/1958) construíram, em estilo românico-bizantino, a colossal e majestosa Igreja dedicada a Cristo Rei, popularmente conhecida como “Jesus de Miramar”, com o simpático Convento anexo. Frei Aniceto de Mondoñedo foi o construtor. Aos 10 de abril de 1948, tomaram posse da Paróquia “La Pastora” em Santa Clara, capital de Villa Clara, onde estão até hoje. Em 1954, abriram a residência do “Cristo de Límpias” na Havana Velha.  

INSTALAÇÃO DA CUSTÓDIA!  

Aos 05 de maio de 1955, o então Ministro Geral, Frei Benígno de Santo Ilário Milanese, erigiu a Custódia Provincial de Cuba, desmembrando-a da Custódia da Venezuela, ambas afiliadas à Província de Castela. Na época havia cinco residências e 22 missionários. Além do apostolado paroquial, os frades estavam engajados na pastoral extraordinária: magistério universitário, missões populares, comunicações (televisão, rádio, jornal), educação, apostolado nos colégios públicos... Estava projetada a construção do Seminário Seráfico, cuja pedra fundamental já havia sido colocada, mas, a partir de 1961, “minguou e fragilizou-se” a presença missionária dos Capuchinhos em Cuba que, doravante, sobreviveu mediante a “solidariedade fraterna” da Ordem. A nossa Província também foi interpelada pela Ordem, a dar a sua colaboração, que já leva nove anos e, agora, a Ordem nos pede que assumamos como Província, a inteira responsabilidade da Missão de Cuba.  

HERDEIROS DE UMA HISTÓRIA DE LUTAS E LABUTAS!    

Herdamos essa história de ousadia e paixão, movida pelo espírito de sacrifício e renúncia! Diante de Deus e da Ordem temos uma grande responsabilidade. No próximo dia 24/05/2013, eu e frei Luís Rota e frei Lázaro Nunes, viajaremos para Cuba e, em nossa companhia, viajará frei Odinei Mota da Cruz, estudante de teologia, anteriormente transferido para a Fraternidade de Manzanillo onde fará o seu ano de tirocínio e, em seguida, prosseguirá os estudos teológicos. No dia 22/05/13, na nossa Igreja do Carmo, Mater et Caput Missionis, na celebração eucarística das 17 hs, será realizado o seu ENVIO missionário.   

Mas, o motivo principal que me leva à Cuba, é que, no dia 1° de junho de 2013, os Conselheiros Gerais, frei Sérgio Dal Moro, pela CCB e frei Hugo Mejía Morales, pela CONCAM, promulgarão o DECRETO GERAL, passando a Delegação “Vírgen de la Caridad”, da jurisdição da Província da Espanha para a nossa Província. Também estarão presentes, o Provincial da Espanha, frei Benjamín Echeverría, e o seu Secretário. Nessa mesma ocasião será realizada a Assembleia da Delegação.  

Será um especial momento da Graça para a nossa Província, pois, a partir dessa data, a inteira responsabilidade da Missão de Cuba estará depositada sobre nós. A Província da Espanha após dois séculos de presença missionária naquele país se retira, silenciosamente, deixando-nos o território geográfico e pastoral daquela desafiadora Missão. A Missão em Cuba será doravante o nosso “primeiro amor” missionário além fronteiras, e isto nos leva a crer, que “a porta da fé estará sempre aberta para nós” (Porta fidei, 1), ou seja, que TODOS nós temos igual e irrestrita responsabilidade para com o desenvolvimento, digo, da nossa Missão: rezar para que o Senhor suscite entre nós vocações missionárias “ad gentes”, apoiá-las, promove-las, incentivá-las.  

DESAFIADOS PELA MISSÃO!  

O número dos nossos missionários em Cuba é pequeno, onze: sete brasileiros, três espanhóis, e um cubano americano. Teremos a Graça de contar com a presença de frei Sandy López Caballero, cubano, estudante de teologia em Salamanca que, no final de agosto vindouro, fará sua Profissão Perpétua e regressará à Delegação. Portanto, a partir de agosto, se Deus quiser, a Delegação terá doze frades. Pouco a pouco a nossa “presença carismática” irá despontando vida como o grão de trigo que cai no chão.  
Atualmente a Delegação conta com três Fraternidades: uma em Havana (Jesus de Miramar), onde funciona a sede da Delegação; uma em Santa Clara, na Província de Villa Clara, onde os frades atendem duas Paróquias (La Pastora e Santana); e uma em Manzanillo, na Diocese de Bayamo, Província de Granma, onde os frades atendem uma Paróquia. Além dessas três residências, há uma quarta, “Cristo de Límpias”, no Centro Histórico da Havana velha, em processo de reestruturação.    

Além desse dado significativo, não podemos esquecer o aspecto da consciência missionária ad gentes, que a nossa Província deverá alcançar. Essa conquista é importantíssima para nós, diante do compromisso que a Cúria Geral coloca em nossas mãos. Mediante esse desafio ímpar poderemos nos empenhar, juntos, na árdua tarefa da “Plantatio Ordinis” em terras cubanas; acreditemos, pois, a Missão da Ordem em Cuba é compromisso inalienável da Província Nossa Senhora do Carmo. Não podemos
sucumbir, jamais!   

Nesse momento, longe de nós qualquer sentimento de vaidade lisonjeira, devendo prevalecer, espírito de solidariedade, generosidade, comunhão e partilha. Longe de nós todo e qualquer sentimento protagonismo, e sobressaia o espírito de renúncia, minoridade e pobreza. Antes da construção de qualquer infraestrutura – que já existe o suficiente – a nossa tarefa vital em Cuba é potencializar a Vida fraterna em vista do Carisma e da Plantatio Ordinis.  

As Fraternidades que se sentirem movidas pelo espírito de partilha, e quiserem ajudar economicamente essa Missão, poderão fazer os depósitos, diretamente, na seguinte conta, em nome da Província: B. do Brasil, Agência 2972-6, CC/34831-7, reservada para essa finalidade. Os Párocos durante os festejos patronais divulguem a nossa Missão; de igual modo os Guardiães, promovam, uma vez ao ano, evento com a mesma finalidade. Lembremo-nos que o supérfluo em nossas casas poderá ser muito útil à Missão. Mãos à obra, irmãos; o tempo urge, e nós, desafiados a continuar a tarefa da implantação da Ordem em Cuba. Avante, pois!  

Enfim, convoco a todos, para assumirmos com ardor e paixão a nossa Missão em Cuba, pois, só assim poderemos dizer que somos uma Província missionária. À luz dos 400 anos de presença Capuchinha no Brasil, com destaque para o Maranhão, não podemos permanecer inertes aos apelos do Espírito que, hoje, nos desafia a avançar “duc in altum” e confirmar nossa presença no Caribe, afinal Aparecida aponta-nos naquela direção.   

Deixemo-nos interpelar pelo Espírito do Senhor, que nos guiará pelas sendas do Evangelho, motivando-nos a irmos “até os confins do mundo”. Por isso, Irmãos, o invoquemos: “Veni Creator Spiritus, mentes tuorum visita, imple superna Gratia, quae tu creastipectora”! Amém! Assim Seja! Aleluia!   

 

São Luís, 19 de maio de 2013, Solenidade de Pentecostes!

Fraternalmente, 

Frei Deusivan Santos Conceição, OFMCap. Ministro Provincial