São Francisco de Assis
Francisco de Assis viveu oitocentos anos atrás. Foi um moço alegre, generoso e cheio de sonhos de grandeza, até que, um dia, descobriu Jesus Cristo. Ele achou que tinha sido chamado por Deus e entrou para valer em uma vida nova. Quando morreu, todos acharam que ele tinha sido transformado em um outro Cristo, mil e duzentos anos depois. Agora, já fazem oitocentos anos que ele passou por esta terra. Você não seria capaz de lembrar os nomes dos seus quatro bisavôs e das suas quatro bisavós, que viveram no século vinte, mas certamente já ouviu falar em Francisco de Assis, que viveu no século treze. E você? O que está fazendo deu sua vida? Você não acha que também foi chamado por Deus? Pode não ter sido para fazer as mesmas coisas que Francisco fez. Mas, lembre-se, Deus não colocou você à-toa neste alvorecer do século XXI.
Os leprosos
Um dia, encontrou um leproso no caminho. Se fosse antes, teria fugido com nojo. Já fizera isso muitas vezes. Desta vez, o encontro mostrou que estava diferente. Foi embora com o leproso. Todo mundo na cidade tinha horror daqueles doentes. Mas Francisco ficou até morando lá. Cuidava deles. Lavava-os, fazia curativos. E ia descobrindo que não havia maior leproso do que ele: estava mudando e precisava de uma mudança cada vez maior. Começou a ter uma ternura tão grande pelos pobres doentes, que se sentiu encantado. Ele nunca amara ninguém daquele jeito: nem sua mãe, nem seus companheiros de aventuras, nem as belas namoradas que arranjara com tanta facilidade.
São Damião
Foi andando sem rumo pelos campos que ele resolveu um dia entrar naquela igrejinha em decadência. Lá dentro estava tudo escuro e sujo. Só um enorme crucifixo parecia uma luz acesa. E seus olhos enormes enxergavam dentro da alma. Enxergavam longe. O olhar do Cristo atravessava-o, espalhava-se pelo mundo, chegava a todo homem, a toda mulher, a toda criança, a todo velhinho, a todos os animais, a todas as coisas. Ah! Como Francisco entendia aquele olhar! Era o olhar da misericórdia que ele sentira amando os leprosos, aquela misericórdia que só podia ser um outro nome de Deus. Desta vez, a resposta saiu como um grito, na forma da oração que ele vivia repetindo naqueles últimos tempos. E que parecia ter sido feita justamente para essa hora: Senhor, iluminai as trevas do meu coração. Dai-me uma fé direita, esperança certa e caridade perfeita, juízo e conhecimento, Senhor, para que faça vosso santo e verdadeiro mandamento! Ele ainda se sentia na escuridão mas alguma coisa começava a ficar clara: precisava de uma luz cada vez maior e de que Deus lhe desse tudo que fosse preciso para que ele fizesse tudo que Deus queria. Não era isso que aquele Jesus estava fazendo na cruz: à vontade do Pai?
Clara
Uns dois anos depois, Francisco resolveu procurar Clara. Era uma moça rica que morava numa casa vizinha da catedral, mas todos sabiam que ela era santa. Francisco deve ter tido alguma iluminação de que era com ela que o Senhor queria começar o grupo de mulheres que ia viver em São Damião. Não demorou muito para a moça vender tudo que tinha e entrar para a nova família. Clara foi um dos maiores acontecimentos da vida de Francisco. E do mundo. Transpirava uma vitalidade enorme, era toda clareza e seu rosto refletia o de Jesus como um espelho. Doze anos mais nova - ela tinha 18 e Francisco 30 - foi mestra e companheira, além de discípula nos seus caminhos de viver Jesus Cristo.
No Monte Alverne recebeu as chagas
Numa dessas vezes, quando ele já tinha quarenta e um anos, estava sozinho com o seu mais fel companheiro, Frei Leão, em um lugar chamado Monte Alverne. Nesse lugar, sua oração foi tão profunda, ele estava tão unido a Jesus Cristo, que até viu uma enorme luz descendo do céu. Quando chegou mais perto, percebeu que era um serafim, isto é, um anjo com seis asas, pegando fogo. Mais perto ainda, ele viu que o serafim era o próprio Jesus Crucificado. Nessa ocasião, recebeu os sinais da paixão de Jesus: ficou com as chagas marcadas no peito, nas mãos e nos pés. Foi para percebermos quanto Francisco se tornou um outro Jesus Cristo. Todos nós, para sermos criaturas felizes e realizadas, também temos que ser outros Cristos. Não precisamos ter as suas feridas nas mãos e nos pés, mas precisamos ter a sua visão das coisas e o seu imenso coração para amar a todos.
Os animais
Mas a transformação de Francisco foi sendo trabalhada por todos os lados. Ele não via só os sinais de dor, via também os sinais de vida. Como Jesus Cristo é toda a manifestação, toda a presença do Deus que é amor, Francisco ensinava todo mundo a ver que todas as criaturas e, depois dos seres humanos, principalmente os animais, são também uma imagem de Jesus Cristo. Muita gente até hoje vê Francisco como um poeta. Mas ele é mesmo um santo, que encontra Jesus Cristo em tudo.
As plantas
Por causa dessa maneira de entender as coisas, Por esse seu jeito de sempre estar enxergando a presença do amor de Deus em tudo e entendendo que o amor de Deus presente é Jesus, Francisco tinha um amor enorme também pelas plantas e umas idéias muito originais. Ele dizia que os frades, quando fossem buscar lenha no mato, nunca deviam cortar uma árvore inteira. No máximo, podiam cortar alguns galhos, deixando que a árvore brotasse de novo. A vida da árvore era um louvor de Deus, como Jesus Cristo. Também não deixava que os frades arrancassem todos os matinhos na horta. Dizia que mesmo que as plantas não produzissem frutas ou folhas para a gente comer, também louvavam a Deus com suas formas tão variadas, bonitas, especiais, e mesmo que suas flores não fossem as mais bonitas.